Assim, de repente.

Entrou no elevador e viu uma conhecida de outras épocas. Pensou: ‘Nossa, como ela está envelhecida...’ - (nessa faixa etária não se diz mais bonita, mas ‘bonitona’). Ela continuava bonitona, embora tivesse notado na ‘conhecida’, alguns... ...  ... ‘vincos’.

Incrível, mas no outro dia entrou no mesmo elevador e estava lá. Talvez fosse efeito daquela luz branca, mas percebeu no espelho os mesmos ‘vincos’ da ‘conhecida’. Não pode, eles não estavam ali ontem. Devem ter surgido na noite passada. Tem que ser isso, não tem outra explicação.

Pensou na vida atribulada, nos horários ‘frenéticos’(palavras de outra amiga), recordou da vez em que colocara dois relógios no pulso e não se dera conta; ela e aquela mania de ser pontual, politicamente correta, certinha. Como então reparar na passagem do tempo?

Os cabelos brancos insistiam em aparecer. Nem tentava mais arrancá-los. Se continuasse a fazer isso ficaria careca. E o que lhe passou pela cabeça quando concordou com o oftalmologista em colocar uma lente de contato para longe e outra para perto? Um dia, vendo uma foto, perguntou à amiga:

- Quem é essa senhora?

E a amiga:

- É tu...

Agora não conseguia nem ler direito, nem dirigir bem à noite. Gente, como estava ficando barbeira... Parece que os espelhos laterais tornavam tudo menor. Ao menos ouvia bem. Mas quando era para lembrar das palavras, era um desastre. Logo ela, tão ‘lida’, que sempre terminava TODOS os livros, por mais chatos que fossem, com um dicionário ao lado; agora esquecia das palavras mais simples.

Para complicar ainda mais, ouviu da amiga (possuidora de um vasto e sólido vocabulário) a frase:

- Tô ficando velha, não estou conseguindo acompanhar a tecnologia. – e pra completar – Pior que isso vem de repente.

Vem mesmo. Sem aviso prévio, telefonema, sinal. Vem com hábitos novos (?), ou talvez ela devesse chamá-los de manias?

Preocupou-se um pouco, não muito. Lembrou-se de um amigo que dissera que há um momento em que começamos a viver e a fazer a contagem como ‘anos de cachorro’.

Apesar de tudo, sentia-se satisfeita.‘Os anos de cachorro’ haviam lhe trazido prática à vida, ensinamentos, e a convicção de que tudo estava ocorrendo exatamente como devia ocorrer.











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