' Do Amoroso Esquecimento'

" Eu, agora - que desfecho! 
Já nem penso mais em ti... 
Mas será que nunca deixo,
   De lembrar que te esqueci?" 

Ah, Mário...Após quase dez anos ele veio com toda força e trouxe à tona a frase estampada em uma xícara comprada em uma lojinha perto de seu escritório. A xícara foi dada de presente despretensiosamente, porém com pretensão - de não ser esquecida nem retirada de seu mundo diferente, que ficava a alguns quilômetros de sua casa mas que parecia ser em outra dimensão; de ser lembrada de repente, meio ao café e a uma conversa que NÃO seriam com ela, mas que o traria direto e instantaneamente àquela esfera que haviam criado somente para si.

Lembrou do que combinaram - e de tudo que SEMPRE cumpriram. Não havia necessidade de relembrá-lo; estava combinado = estava combinado. Exatamente como ela. Não haveria desencontros, nem mentiras, nem desculpas esfarrapadas. Não iria sair de sua vida com memórias inadequadas ou doloridas. Não iria simplesmente sair como se nunca tivesse entrado, nem tampouco iria enviar a ela objetos mofados e empoeirados. NEVER! Esse não era ele. Seu cuidado era proporcional ao dela: os lençóis cheirosos que eram preconizados; a gentileza permanente ao pedir pra desligar o ar-condicionado, o elogio simples, sincero, honesto, puro, real, genuíno, imperturbado pela multidão, sem plateia, sem aprovação.

Ela gostava do colar de estrela dele. Ele gostava do colar redondo dela. Tão diferentes e tão semelhantes... Ele iria quebrar suas regras, suas crenças e seu sagrado por ela. Iria vir na sexta, trabalhar no sábado, viria para o almoço e não para 'almoçá-la'. Faria malabarismos para encontrá-la, dirigiria como louco na noite para vê-la, para tê-la, para jantarem, para conversarem sem altercações, para beberem vinho e conversarem sobre a vida agendada e atribulada.

Continuaria a vir no aniversário dela como frequentemente fazia e a encontraria num país distante para ouvi-la sem interrompê-la e pra deixá-la dizer tudo o que ela não teve tempo de dizer. Ela falou aliviada, sem cobranças, exprimindo o que sempre sentira, com tranquilidade, calma, alheia ao tempo e espaço implacáveis.

Permitiu-se apenas viver aquele momento e apreciar a paisagem do ano que se vislumbrava tímido por principiar, mas audaz, aguerrido por avançar e levá-la de volta ao seu lugar, ao som do vento e do frio que ela tanto amava.






Não deu tempo