Nossa, que combinação...

Chuva e sol ao mesmo tempo, cigarras cantando, calor de quase 40°C, cheiro de terra molhada. A grama vai crescer como louca...   :(

Don't make me feel envy...

Presentinho de Natal... dica de filme


A produção francesa de 2006 de Julie Gavras, filha do cineasta grego Costa-Gavras, a princípio me deixou desconfiada. Afinal, que tipo de filme seria esse intitulado 'A Culpa é do Fidel?' 

Adoro ser surpreendida...  Acredito que a ideia tenha sido exatamente essa; iniciar com a impressão errada e ir aos poucos, removendo de nosso olhar 'a venda' do desconhecimento, da ignorância, do preconceito. A protagonista de 9 anos nos conduz sutilmente ao esclarecimento e reflexão sobre questões humanas meritórias: valores, família, crenças; nos mostrando que a vida não é uma história infantil e que temos que aprender a crescer.

Mais um 'antiguinho' que vale à pena ser visto.

Sei que parece maluquice...

Mas alguém já notou que uma ameixa parece uma cereja grande? Ou que o som do fagote fica ainda mais lindo com o som do piano?

'Perdas e Ganhos ou Ganhos e Perdas?'

Minha amiga manteve seu carro ‘antiguinho’ por anos. Por ‘n’ razões, mas principalmente por razões financeira$. Sempre houve outras prioridades e ela ia levando, pois gostava do carro e eles tinham um histórico. Porém, após um verão chuvoso, com estradas fechadas e dificuldades mecânicas, decidiu. Aquele ano era teria que trocá-lo. Os meses passaram e finalmente ela comprou um carro novo, da cor que queria, cheiroso, brilhante, simples - mas novo -,  que cabia no seu orçamento e que se adequava às suas necessidades, que não eram muitas. No dia que foi efetuar a troca sentiu-se com o coração partido. Ninguém entendia a razão dela sentir-se assim (nem ela mesma), mas parecia que estava ‘traindo’ o carro antigo, que mesmo nos piores momentos, jamais a ‘deixara na mão’. Passava frente à revenda e o via lá, como se mostrando-se a ela. Até que um dia ele se foi. Sentiu uma dorzinha no peito. O carro novo ainda lhe era estranho, e lhe dava ares de incompetência ao dirigí-lo.

Algumas semanas depois, ao parar em uma sinaleira, olhou para o lado e viu alguém dirigindo ‘seu’ carro. Era ele... Com a placa que ela não esquecera e com sua nova dona. Carro de mulher para mulher. Ao menos seria bem cuidado. Dirigiu ainda por algumas quadras lembrando do companheiro de quase uma década. Até hoje não sabe a placa do carro novo, mas ainda lembra da do velho.

O tempo passou e outras necessidades surgiram. Dessa vez, de um computador novo. O PC ‘antiguinho’ de casa precisava ser substituído. Ocupava muito espaço, estava lento, preguiçoso, cansado; contudo, também mantinha o seu histórico, também passara anos com ela, também fora seu parceiro... Guardara em sua memória imagens, palavras, canções, compromissos. Postergou até quando pôde. Nossa, mais uma mudança -  seria demais... Olhava na Internet quase todo o dia os preços, modelos, características. Até que finalmente escolheu, comprou e chegou. Ficou ‘contentinha’, mas o deixou na caixa, fechado, por dias. Afinal, até o técnico vir e transferir os dados, ainda levaria algum tempo.

Finalmente, num sábado ensolarado e quente (calor horroroso!), passou o dia envolvida; copiando, deletando, ajustando, resgatando. O computador novo era brilhante, compacto, rápido, mas parecia novamente que desaprendera como utilizá-lo. As cores eram diferentes, a conexão era diversa, e o pior, perdera registros, perdera o histórico. Sentiu-se completamente 'extraviada'. Onde estavam as datas das conversas, onde estavam os ‘chats’????? Buscou por horas, abriu pastas, fechou, pesquisou. Eles haviam se ido. Sensação de vazio, de falta.

Como que algo que se supõe ser bom, se torna de repente menos bom? Por que esse ‘feeling’ de subtração, de abrir mão, de se foi? Talvez pelo fato do carro novo não lhe levar aos mesmos lugares do passado, com as mesmas pessoas daqueles tempos, ou do computador não poder mais lhe restituir dias e noites em um calendário, palavras, emoções, surpresas (boas ou más).

Percebeu o quanto precisava ainda compreender a ausência, não a substituição do 'velho’ pelo novo, da não perenidade material dos objetos e das pessoas, da passagem (breve) de tudo na vida e da necessidade inquestionável que tudo, indiscutivelmente, tem começo, meio e fim.

Fala de um filme francês

' Me ofereceram algo que era dela. Não quis abusar. Quis algo simples. Também, o que eu faria com algo sofisticado?'

'Husbands & Wives' ou ' Maridos e Esposas'

É um filme de 1992, ou seja, de 18 anos atrás, mas cujas falas permanecem contemporâneas e cujo enredo talvez já seja resultado do momento ‘inusitado’ do casamento do próprio diretor (Woody Allen) e sua esposa na época (Mia Farrow).
Lembro que quando o assisti, há muitos atrás, ele não me ‘tocou’. Fora o estilo característico de Allen, seus monólogos, sua aparição, suas palavras profundas e inteligentes que ‘forçam’ o  ‘moviegoer’  a acompanhar, a não se dispersar, a identificação com o filme é algo decisivo. Ou seja, não me ‘tocou’ porque não passara por nenhuma daquelas experiências.

Hoje, praticamente 20 anos depois, vejo o filme ‘com outros olhos’. Ele se locupletou (como eu ao assistí-lo), num fim de tarde com chuva, vento e um friozinho para ‘enganar’ nesta época do ano.

Porém, ‘aviso aos navegantes’, se tu não gostares, nem vale à pena experimentar. Haverá casais amigos, separações, paixões, NY City, questionamentos infindáveis. Agora, se já aprecias, vais simplesmente  admirar ainda mais.


Estar juntos...

Na minha extrema dificuldade de ‘estar’ com as pessoas real e pessoalmente, me encontro com amigos. De outros momentos. E descubro que é muito bom, embora estejamos seguindo caminhos completamente diferentes. Em tese - pois falamos exatamente a mesma língua, e indiretamente trilhamos a mesma estrada e buscamos o mesmo.
Muitas vezes deparo-me com aqueles que seguiram comigo por muitos anos. Nossas experiências não são mais as mesmas e reflito o quão difícil é admitir que não há certezas ou irregularidades. Apenas nos distanciamos em nosso trajeto, ou nossas rotas temporariamente se modificaram.
Necessito admitir que a amizade não se perdeu, mas se transformou. Quem estava longe se aproxima e quem estava próximo se distancia. Não há dor ou drama. Apenas abstraímos que as relações são feitas de cuidado, respeito, atenção, água para ‘molhar’, silêncio para escutar , calma para calar, e que elas se fortalecem na paciência, entendimento, maturidade. E  o‘estar juntos’, proporciona um prazer temporário e eterno, formado por afeto e compreensão. A ‘busca’ dignifica, realça, une; ao passo que o complicado cria barreiras, utiliza as palavras desnecessárias e inadequadas, conduzindo a lugar nenhum.
Divagações da madrugada, na hora em que os sábios se reúnem e lecionam, apenas a nos ensinar que somente permanecemos juntos quando possuímos as mesmas intenções.

                                                            Estar juntos por uma amiga

Aquisição linguística ou simplesmente al-fa-be-ti-za-ção

Minha amiga voltou há 40 anos atrás. Reviu a mesma professora com seus olhos azuis (talvez fosse por isso que ela fosse fascinada por pessoas com olhos dessa cor), reviu os cartazes com as vogais e os desenhos associados a eles. Sentiu até o mesmo ‘medinho’ infantil  - que não conseguiria jamais entender aquelas letras, com aqueles sons sem sentido (afinal ela só tinha 5 anos) - e, consequentemente, juntá-los e descobrir o mundo, viajar sem fronteiras. A partir daquele momento ela ultrapassaria apenas a primeira barreira. Por fim, até hoje ela mantém um diploma de 1° lugar na turma, o que ela não recorda muito bem nem como conseguiu, pois apenas lembra de estar sentada no meio de outras crianças, parecendo ser a mais citada, ou sei lá, talvez a ‘especial’, com seu cabelo cuidadosamente penteado e seu vestido de lã azul e uma blusinha branca por debaixo, além daquela vontade imensa de sair correndo dali e brincar lá fora (talvez advenha dali sua incapacidade de ir ao cinema).

Pois bem, fora a vontade de ‘sair correndo’, desesperada, ela teve a mesma sensação de descoberta, quando conseguiu, pela primeira vez, juntar as letras daquele alfabeto estranho e formar palavras. Nossa! Seus olhos brilharam... Dentre as várias coisas que já tentara fazer, ela decidida e categoricamente entendera que não era uma pessoa com dons musicais (embora adore música e tenha uma boa voz), nem esportivos (um pavor na escola), nem manuais (embora tivesse arduamente tentado aprender a lidar com agulhas de todas as formas, tamanhos e objetivos). Ela é uma pessoa que gosta de estudar, ler, que gosta de fazer tema, de disciplina, que gosta do que os outros consideram ‘chato’.

Perguntou-se qual o sentido daquilo naquela altura da vida, além dos tradicionais ‘quando, como, onde, quanto, por quê’? Por que ter que criar dificuldade em algo consolidado (ou seria apenas mais um desafio?), e que a princípio não lhe traria nenhum benefício (aparente)? Refletiu, avaliou, concluiu. Mas até chegar a esse ponto, precisou dirigir por horas na estrada e digerir o que tudo aquilo significava.

Pensou no ‘seu’ momento de vida – que não era o de mais ninguém, pois todos possuem os ‘seus’ momentos de vida, e ninguém vive o do outro. Pensou no prazer do desvelar, na geografia e na história; pensou na satisfação pueril de identificar os símbolos, de desenhá-los, de pronunciá-los.

Cada um, no seu processo de aquisição ou de (re)alfabetização, irá se deparar, após algum tempo, com ‘seus’ fantasmas no armário. E cada um irá procurar, a seu modo, enfrentar esses fantasmas como melhor imagina (ou como imagina melhor). Uns aprendem uma nova língua, outros aprendem a tocar um instrumento, outros buscam livros, ciências, religiões; uns buscam a pintura, outros, a dança.Uns buscam através de si, outros por meio de outros. Alguns ainda não buscam.

Isso importa? De jeito nenhum. Afinal, a aquisição é improrrogável. E, por mais que queiramos procrastiná-la, ela impreterivelmente virá a nós, de forma suave, para preencher as lacunas que se encontram sem respostas.






Não deu tempo