'Perdas e Ganhos ou Ganhos e Perdas?'

Minha amiga manteve seu carro ‘antiguinho’ por anos. Por ‘n’ razões, mas principalmente por razões financeira$. Sempre houve outras prioridades e ela ia levando, pois gostava do carro e eles tinham um histórico. Porém, após um verão chuvoso, com estradas fechadas e dificuldades mecânicas, decidiu. Aquele ano era teria que trocá-lo. Os meses passaram e finalmente ela comprou um carro novo, da cor que queria, cheiroso, brilhante, simples - mas novo -,  que cabia no seu orçamento e que se adequava às suas necessidades, que não eram muitas. No dia que foi efetuar a troca sentiu-se com o coração partido. Ninguém entendia a razão dela sentir-se assim (nem ela mesma), mas parecia que estava ‘traindo’ o carro antigo, que mesmo nos piores momentos, jamais a ‘deixara na mão’. Passava frente à revenda e o via lá, como se mostrando-se a ela. Até que um dia ele se foi. Sentiu uma dorzinha no peito. O carro novo ainda lhe era estranho, e lhe dava ares de incompetência ao dirigí-lo.

Algumas semanas depois, ao parar em uma sinaleira, olhou para o lado e viu alguém dirigindo ‘seu’ carro. Era ele... Com a placa que ela não esquecera e com sua nova dona. Carro de mulher para mulher. Ao menos seria bem cuidado. Dirigiu ainda por algumas quadras lembrando do companheiro de quase uma década. Até hoje não sabe a placa do carro novo, mas ainda lembra da do velho.

O tempo passou e outras necessidades surgiram. Dessa vez, de um computador novo. O PC ‘antiguinho’ de casa precisava ser substituído. Ocupava muito espaço, estava lento, preguiçoso, cansado; contudo, também mantinha o seu histórico, também passara anos com ela, também fora seu parceiro... Guardara em sua memória imagens, palavras, canções, compromissos. Postergou até quando pôde. Nossa, mais uma mudança -  seria demais... Olhava na Internet quase todo o dia os preços, modelos, características. Até que finalmente escolheu, comprou e chegou. Ficou ‘contentinha’, mas o deixou na caixa, fechado, por dias. Afinal, até o técnico vir e transferir os dados, ainda levaria algum tempo.

Finalmente, num sábado ensolarado e quente (calor horroroso!), passou o dia envolvida; copiando, deletando, ajustando, resgatando. O computador novo era brilhante, compacto, rápido, mas parecia novamente que desaprendera como utilizá-lo. As cores eram diferentes, a conexão era diversa, e o pior, perdera registros, perdera o histórico. Sentiu-se completamente 'extraviada'. Onde estavam as datas das conversas, onde estavam os ‘chats’????? Buscou por horas, abriu pastas, fechou, pesquisou. Eles haviam se ido. Sensação de vazio, de falta.

Como que algo que se supõe ser bom, se torna de repente menos bom? Por que esse ‘feeling’ de subtração, de abrir mão, de se foi? Talvez pelo fato do carro novo não lhe levar aos mesmos lugares do passado, com as mesmas pessoas daqueles tempos, ou do computador não poder mais lhe restituir dias e noites em um calendário, palavras, emoções, surpresas (boas ou más).

Percebeu o quanto precisava ainda compreender a ausência, não a substituição do 'velho’ pelo novo, da não perenidade material dos objetos e das pessoas, da passagem (breve) de tudo na vida e da necessidade inquestionável que tudo, indiscutivelmente, tem começo, meio e fim.

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