Uma amiga me contou uma história

‘A corrente de estrela’


Às vezes ela se perguntava como podia ser tão insensível aos detalhes tão grandes que as pessoas lhe mostravam e que passavam batido. Podia ser uma palavra, um par de sapatos novos, uma roupa, um sorriso, um olhar, um momento de silêncio.

Na hora percebia, brevemente, frações de segundo, mas não comentava; não perguntava, deixava passar.

Notou a corrente com a estrela desde a primeira vez, que enfatizava suas diferenças de crenças, de hábitos, de ‘comunidades’. Deduziu, pensou, imaginou. Receou perguntar, afastar.

Quantas vezes fez isso e não se flagrou? Quantas vezes afastou querendo unir? Quantas vezes omitiu desejando manifestar?

A corrente de estrela não desuniu, pelo contrário. Ela esteve sempre lá, do início ao fim, dia e noite, sempre lhes lembrando, mas não impedindo.

A corrente de estrela fazia parte do corpo, junto ao peito, aos pelos, ao coração, à história dele, tão diversa à dela.

Uma noite passou, mais outra, mais um dia, mais outro.

Num domingo ele se foi, com sua corrente de estrela, com o sol, com a lua, com a chuva e com as outras estrelas.

Ela manteve na memória a estrela de seis pontas, o brilho dos momentos, a cumplicidade na forma da corrente e o valor de ouro dos detalhes. Ela nunca mais seria insensível a eles.

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