Minha amiga amou um homem...

E não sabia que havia amado. Só soube depois que acabou, depois que se foi, depois.

Era um homem que ela jamais escolheria (conscientemente) para amar. Era atrapalhado nos horários, nas agendas, nos compromissos. Era friorento, alérgico a tudo ( e minha amiga a-do-ra inverno, frio, chuva, vento, umidade, céu escuro). Dirigia mal, era desatento. Saía ‘pingando’ pelo banheiro depois do banho, deixava roupas espalhadas pela casa e a deixava ‘falando’ sozinha no msn.

Mas... Ou os defeitos do outro se tornam atração ou se tornam insuportáveis. Minha amiga optou pela química; doida, inexplicável. Descobriu que gostava das diferenças, e que era exatamente isso que os conectava, ‘encaixava’, sintonizava, mantinha; além das lições malucas que trocavam, de línguas antigas ao funcionamento dos freios de um caminhão, ou a limpeza do filtro da máquina de lavar e a cor do esmalte para a estação, ou ainda o final imprevisível do episódio de ‘Law & Order’.

Conheciam-se bem. Até demais. Mesmo sem precisar dizê-lo. A relação era límpida, transparente. Ele sabia quando ela estava desagradada pois ela tamborilava os dedos nervosamente (sobre a mesa, sobre a cama, sobre o peito dele); ele fazia tudo devagar na hora de ir embora pra não ter que ir.

Ambos se presenteavam. Ela lhe proporcionava somente o melhor de sua casa e de si. Ele lhe retribuía com pequenas gentilezas; coloridas, doces, silenciosas, surpreendentes. Davam gargalhadas, dormiam pouco, beijavam-se muito.

Um dia ela ‘sentiu’ que ele iria embora. Ele também. Não sabiam como, nem a hora, nem o dia, só sabiam.

As últimas vezes foram veementes, estranhas.

Fizeram algo que nunca haviam feito. Seguraram as mãos com força, em silêncio, num infinito, e nada disseram. Mas pensaram.

Ele se foi. Pra sempre.

Ela entendeu que o amara, mas não o disse - ou talvez, apenas não tivera tempo para fazê-lo.

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